Renato Nathan Gonçalves Pereira



O companheiro Renato Nathan Gonçalves Pereira foi fria e cruelmente executado em Buritis. Reproduzimos relato dos companheiros do CEBRASPO – CENTRO BRASILEIRO DE SOLIDARIEDADE AOS POVOS:

“Renato tinha 28 anos, era casado e pai de uma filha de 2 anos de idade. Ele foi professor
durante vários anos. Ajudou na organização da campanha de alfabetização de jovens e adultos,
na construção de escolas e na produção na região de Buritis. Atualmente residia no município
de Jaru e realizava serviços de topografia em sítios e p ara instalação de redes elétricas.
Por onde quer que tenha passado deixou uma infinidade de amigos, pelo seu jeito simples de
tratar as pessoas, por sua enorme dedicação ao trabalho, senso de justiça e solidariedade.
Nós manifestamos aos familiares, esposa, filha e amigos nosso mais sentido pesar e dor neste
momento difícil.
Moradores da região relataram que no dia 10 de abril quando Renato retornava de Buritis para
seu sítio no município de Campo Novo teria sido parado numa blitz e covardemente assassinado
por policiais civis a paisana. Foi executado com três disparos a queima roupa, sendo dois na
nuca e um no rosto. Sua moto foi encontrada com o capacete ainda no guidão, portanto, numa
clara demonstração de que teria sido rendido e depois executado.

Segundo moradores, o motivo seria uma provável vingança contra a morte de um agente
penitenciário e um policial civil dias antes. Segundo informações, os policiais estariam envolvidos em vários crimes e assassinatos de trabalhadores e camponeses na região de Buritis a mando de latifundiários e grileiros de terra."

Queremos ainda ressaltar que Renato era um companheiro extremamente estudioso, sempre preocupado com as questões políticas de nossos tormentosos tempos, e era entusiasta apoiador e divulgador do Jornal “A Nova Democracia” entre os camponeses.

Sobre as circunstâncias de seu cruel e covarde assassinato, e a repercussão do mesmo na imprensa de Rondônia, nós manifestamos que:

1. Por mais que não seja novidade para ninguém o baixo nível de grande parte da imprensa de Rondônia, que se caracteriza pelo estilo “imprensa marrom” ultra-reacionária, é muito indignante que diante de um crime tão cruel, se dedique a desqualificar a vítima imputando-lhe as mais absurdas acusações, ao contrário de indagar sobre os possíveis assassinos, o que é esperado da parte de qualquer jornalista minimamente honesto.

2. Repudiamos a velha e surrada cantilena do aparato de repressão do Estado, do qual também seria obrigação tentar identificar os criminosos, de que com o companheiro foram apreendidos “material com táticas de guerrilha”. Pasmem, “A arte da Guerra”, de Sun Tzu, escrito no século IV Antes de Cristo, livro supostamente apreendido no barraco de Renato, é apresentado para justificar as mentiras policiais.

3. Repudiamos as declarações do perseguidor de sempre da LCP, Major Ênedy, de que seríamos responsáveis pela violência em determinadas regiões de Rondônia. As mentirosas acusações contra nós deste capacho do latifúndio sempre foram devidamente desmascaradas, inclusive na Justiça. Enedy acusou os camponeses Caco, Russo e Joel de terem assassinado um pistoleiro do Galo Velho: os três foram absolvidos. Enedy foi levado a tiracolo ao Congresso Nacional, pelo jornalista da ISTO É que freqüentemente é pago para atacar a LCP, para corroborar suas acusações contra o nosso movimento: mais uma vez saiu com o rabo entre as pernas. E o processo que o então Major Enedy moveu contra o jornal Resistência Camponesa, que publicou que ativistas da Liga haviam denunciado que o mesmo recebera gado em troca de cumprir reintegração de posse, caducou.

4. Repudiamos a torpe ilação de que, por ser carinhosa e respeitosamente chamado pelos camponeses de professor, por ser estudioso, simples, combativo e corajoso, Renato deveria ser “um dos articuladores” da Liga. Quanta honra e orgulho teríamos se Renato fosse membro de nossa organização! Mas do que se trata aqui não é disso.

Essa “conclusão” do aparato policial, própria dos tempos do regime militar para torturar e eliminar seus opositores serve para justificar a execução do companheiro Renato, bem como para intimidar os que se levantarem contra mais este crime hediondo do Estado.

5. Denunciamos que o assassinato de Renato está intimamente ligado a massiva resistência das famílias camponesas do Canaã, ameaçadas por um dos mais absurdos mandados de reintegração de posse que se tem notícia em Rondônia! Como também o foi a agressão de outro apoiador dos camponeses do Canaã, o radialista PJ, após o fechamento da 364 em Jaru por camponeses e caminhoneiros.

6. Denunciamos que o assassinato de Renato está intimamente ligado à luta das vítimas de Santa Elina para que o sangue derramado pelos mártires na heróica resistência de Corumbiara, há 17 anos, não seja maculado e usado por canalhas como o senhor Anselmo, atual Secretário de Estado da Agricultura e dono da FETAGRO, que troca lotes por votos!

7. Denunciamos que, por trás do assassinato de Renato, estão determinados funcionários do INCRA que na verdade são agentes da ABIN, como esta famigerada Márcia, que com sua conversa de carola mapeia e entrega lideranças camponesas para que sejam intimidadas pelas forças de repressão e posteriormente assassinadas pelo latifúndio; está a Ouvidoria Agrária Nacional, tendo à frente o Desembargador Gercino Silva, responsável por intimidar e criminalizar os camponeses que não aceitam seus acordos de rendição para os latifundiários e grandes banqueiros que controlam milhões de hectares de terras; estão Confúcio e Dilma, no seu esforço por apoiar o agronegócio e enterrar de vez a “reforma agrária”.

Conclamamos a todos os verdadeiros e honestos democratas que se somem à luta por justiça para o companheiro Renato; para Valdir, Milton Santos e Clestina, do MLST - MG, assassinados a tiros em 23 de março próximo a Uberlândia; para Antonio Tiningo, do MST – PE, assassinado a tiros em 23 de março em Jataúba, agreste Pernambucano; para Dinhana Nink, extrativista e ativista da luta pela terra, assassinada a tiros em 30 de março em Nova Califórnia, Rondônia; para Pedro Bruno, assassinado a tiros em 2 de abril em Gameleira, Zona da Mata Sul de Pernambuco.

Morte ao latifúndio!
Terra para quem nela vive e trabalha!
Companheiro Renato: presente!

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